Programe sua experiência

PROGRAME SUA EXPERIÊNCIA – ESTEJA PREPARADO

Autor: Tupy







Uma experiência psicodélica é um período de intensas reações de estímulos sensoriais seja de dentro ou de fora. Já uma experiência psicodélica “programada” é uma em que a seqüência de estímulos é mais padronizada, não deixada tanto a sorte, sendo arranjada de uma maneira a lhe dar mais segurança, lhe permitindo ir a lugares mais desejáveis.
Usando um programa, tentamos controlar a experiência psicodélica a determinadas direções.
Um programa é como se fosse um panfleto de viagem, posso pegá-lo no aeroporto e visualizar por onde devo começar, qual o melhor caminho a se tomar, uma série de sinais e símbolos que irão me ajudar. Um bom exemplo, seria um piloto de avião, novato, em suas primeiras aulas de vôo, necessita em muita das comunicações da torre de comando por rádio, que irão prover a ele orientações durante a “viagem”, ajudando assim a voar em território desconhecido e por entre tempo fechado.

A idéia de programar uma experiência psicodélica é baseada na teoria sobre a natureza dos efeitos psicodélicos. A hipótese, que foi primeiramente formulada por Thimoty Leary na Universidade de Harvard (EUA) - Projeto Psilocibina (Psilocybin Project), e foi amplamente aceita por cientistas e pesquisadores da área, é que o conteúdo da experiência psicodélica é primeiramente determinado por dois fatores chave: set e setting. “Set”, se refere ao estado interno da pessoa tendo a experiência, seu humor, expectativas, medos, desejos; Setting, se refere as condições externas da experiência, o estado físico das coisas ao seu redor, os objetos que o cercam, o espaço, as suas relações com as pessoas que no momento estão a sua volta e, principalmente, da pessoa que está lhe entregando a oportunidade da experiência, essa também é tido como um elemento do setting.

Já é bem entendido que os psicodélicos, agora já melhor compreendidos e chamados de enteógenos, podem produzir fortes experiências religiosas, visionárias, terapêuticas ou de vários outros tipos, dependendo do set e setting.

É uma observação simples a de que as experiências com maior sucesso as mais educacionais e libertadoras são aquelas precedidas por um período de desligamento do mundo externo, dos jogos e compromissos cotidianos. O tempo que precede a ingestão de substâncias alteradoras de consciência é crucial do ponto de vista de preparação interna. O conteúdo da sua conscîência nesse tempo irá dominar a sua posterior experiência.

Aquele que se sente deprimido, ansioso ou irritado, irá levar essas sensações negativas à experiência, se farão fazer sentir com grande intensidade. Se o indivíduo se sente sereno, tranquilo, confiante e desgarrado de todos os problemas do cotidiano, a experiência tende a ser livre e iluminada.

A importância de preparar a mente e o corpo para a experiência dificilmente pode ser superestimado. Fisiologicamente, a parte mais importante da sessão com os enteógenos é quando se faz sentir os primeiros efeitos químicos no corpo. O experimentador não está preparado para esse momento de "decolagem", muita da sua firmeza no restante da experiência vai depender de como você lida com esse momento, de como você se livra das suas impressões do cotidiano, das suas impressões, e querer explicar e compreender tudo o que acontece com o seu corpo. Os batimentos cardíacos, a sudorese, o formigamento das mãoes e pernas, a agitação e por ai adiante. Estar preparado para essas mudanças, estar consciente e de mente serena irá lhe proporcionar tudo o de melhor que a experiência tem a oferecer, a lidar com essas poderosas energias que estão para vir.

Existem classes de homens que, tendo carregado conflitos cármicos a respeito de inibições de sentimentos, mostram-se incapazes de manter a experiência pura além de quaisquer sentimentos, e escorregam para visões de caráter emocional. A energia indiferenciada é tecida em jogos visionários na forma de sentimentos intensos. Pulsantes, estranhas e intensas sensações de amor e unidade serão sentidas; o equivalente negativo são sentimentos de afeição, cobiça, isolamento e preocupações com o corpo.


Eis uma lista das sensações físicas comumente relatadas: 1. Pressão corporal, que os tibetanos chamam de terra-se-desfazendo-em-água; 2. Frio úmido, seguido por calor febril, o que os tibetanos chamam de água-se-desfazendo-em-fogo; 3. Desintegração do corpo ou a sua dispersão em átomos, chamada fogo-se-desfazendo-em-ar; 4. Pressão na cabeça e nos
ouvidos, que os americanos chamam de foguete-sendo-lançado-ao-espaço; 5. Formigamento nas extremidades; 6. Sensação de como se o corpo estivesse derretendo ou escorrendo como cera; 7. Náusea; 8. Tremor, começando na região pélvica e se espalhando para o tronco.

As reações físicas devem ser reconhecidas como sinais indicativos da transcendência. Evite tratá-las como sintomas de doença, aceite-as, una-se a elas, aproveite-as. Ainda, se o sujeito experimentar sensações estomacais, elas devem ser saudadas com um sinal de que a consciência está se movendo pelo corpo.

Pode ser de ajuda descrever em maiores detalhes alguns dos fenômenos que geralmente acompanham o momento da ego-perda. Um deles pode ser chamado de “fluxo de ondas de energia”. O indivíduo torna-se consciente de que é parte de um campo de energia carregado, e de que está cercado por ele, que parece quase elétrico. Para prolongar o estado de ego-perda tanto quanto possível, a pessoa preparada relaxará e permitirá que as forças fluam através dela. Há dois perigos a evitar: a tentativa de controlar e racionalizar esse fluxo.

Um segundo fluxo é o chamado “fluxo vital biológico”, aqui a pessoa torna-se consciente dos processos bioquímicos e fisiológicos, da atividade rítmica pulsante no interior do corpo. Os processos biológicos interiores podem também ser ouvidos como chiados e barulhos de crepitação e trituração característicos. A pessoa deve resistir à tentação de rotular e controlar esses processos. Nesse ponto você está ligado a áreas do sistema nervoso que são inacessíveis à percepção rotineira. Você não pode arrastar o seu ego para dentro dos processos moleculares da vida. Esses processos são um bilhão de anos mais velhos que a mente conceitual erudita.

Então, algumas dicas de como deixar a sua mente e o ambiente em volta o mais sereno e prazeroso o possível para a experiência poder correr sem muitos transtornos sejam eles de que ordem forem.

Escolha um ambiente calmo, onde sabe que durante todo o período em que você estiver ali, ninguém irá aparecer, pessoas que não foram convidadas a participar da experiência não irão entender o que está se passando, além disso, haverá um choque de energias, de egos, o que em muita irá lhe confundir e dificultar a sua experiência. Então, pré determine um local tranquilo, seja ele numa praia, nas matas, montanhas, sítio, ou em algum comodo da sua casa.

O uso de incensos é uma forma de meditação, os aromas, despertam instintos básicos do ser humano e são muito bem vindos em experiências psicodélicas.
Sabores e toques também podem ser experimentados durante a sessão. Os seus sentidos irão demonstrar dimensões de percepção nunca antes vistas ou sentidas, prepare frutas, e, diferentes texturas como quadros com motivos hindus (dependendo de suas concepções religiosas), quadros com mandalas também são muito interessantes.

Musicas indianas são perfeitas para esses tipos de sessões, a tradição hindu preservou formas e modos de comunicação musical que transcendem milhares de anos e possuem um tempero muito psicodélico, despertam partes adormecidas do seu subconsciente, brilham forte em cada nota, denotando uma música universal, que flui junto as vibrações da natureza.

Na verdade o conteúdo do programa, vai depender muito do propósito, objetivos, da sessão. Diagnósticos, terapia, entendimento intelectual, visionária, apreciação, comunicação interpessoal, entendimento próprio, desenvolvimento do espiritual, entre outros.

É aconselhado que no dia seguinte a sua experiência, de preferência, tente se abster de comunicação, procure não sair falando a todos como foi que aconteceu a sua experiência, reserve esse dia para meditar mais profundamente acerca e tudo o que se passou no dia anterior. Um dos principais motivos de "não se entender" do que aconteceu durante a sessão é essa ânsia de logo de imediato querer racionalizar ou "explicar" a experiência. Reserve esse dia para manter a serenidade, não deixe-se ser tomado pela ansiedade, ela só vai lhe bloquear as reais intenções e entendimentos que porventura possam ter sido desencadeados. Deixe-se absorver lentamente os detalhes da experiencia, deixe a mente fluir livremente, sem dogmas, sem ego.

A pessoa experiente está normalmente além da dependência do cenário. Ela pode desligar-se da pressão exterior e retornar à iluminação. Uma pessoa extrovertida, dependente de jogos sociais e situações exteriores pode, no entanto, ficar prazerosamente distraída (cores, sons, pessoas). Se você antecipar a distração do extrovertido e quiser manter um estado de êxtase de não-jogos, então lembre-se de seguir as seguintes instruções: não se distraia, tente se concentrar numa personalidade contemplativa ideal, por exemplo o Buda, Cristo, Sócrates, Ramakrishna, Einstein, Hermann Hesse ou Lao Tsé: siga o seu modelo como se ele fosse um ser com um corpo físico esperando por você. Junte-se a ele.

Outra parte muito delicada que os enteógenos tocam em você é sua cultura. Então a importancia do programa é lhe assegurar um controle forte sobre o sistema nervoso. O processo de ser gerado nesse mundo e ser educado dentro de determinados padrões e simbologias, dentro de uma determinada cultura é um processo de ter no seu sistema nervoso impresso essas simbologias. O preço dessa impressão no nosso sistema nervoso é o preço de não poder enxergar com nitidez e eficiencia simbolos externos e estranhos a nós. Então, se prepare para esses choques de percepção e cultura que serão re-impressos em você, esteja atento.

No auge da experiência, o fluxo de consciência, microscopicamente nítido e intenso, é interrompido por tentativas fugazes de interpretar e racionalizar. Mas o ego-jogador normal não está funcionando efetivamente. Existem, portanto, possibilidades ilimitadas para, por um lado, novidades intelectuais e emocionais agradáveis se deixar-se flutuar com a corrente; e, por outro lado, temíveis emboscadas de confusão e terror se tentar-se impor a sua vontade à experiência.

Esteja ciente para os pontos de escolha que surgem durante este estágio. Estranhos sons, visões sobrenaturais e perturbadoras podem ocorrer. Eles podem impressionar, assustar e atemorizar a não ser que se esteja preparado.

A pessoa experiente será capaz de manter a percepção de que todas as percepções vêm de dentro e será capaz de sentar-se calmamente, controlando sua consciência expandida como um aparelho de televisão multidimensional fantasmagórico: as alucinações mais agudas e sensíveis – visuais, audíveis, táteis, olfativas, físicas e corporais; as reações mais requintadas, o discernimento compassivo do eu, do mundo. A chave é a inação: a integração passiva com tudo o que ocorre à sua volta. Se você tentar impor sua vontade, usar sua mente, racionalizar, buscar explicações, você será pego em rodamoinhos alucinatórios. O lema: paz, aceitação. É um panorama que muda continuamente. Você é temporariamente apartado(a) do mundo de jogo. Aproveite isso.

Os inexperientes e aqueles para os quais o ego-controle é importante podem considerar a passividade impossível. Se você não puder se manter inativo(a) e subjugar sua vontade, então a única atividade que pode certamente reduzir o pânico e puxá-lo(a) de volta dos jogos mentais alucinatórios é o contato físico com outra pessoa. Vá até o guia ou até outro participante e ponha sua cabeça no ombro dele(a) ou no seu colo; ponha seu rosto próximo ao dele(a) e se concentre no movimento e no som da respiração dele(a). Respire profundamente e sinta o ar correr para dentro e a expiração. Esta é a forma mais antiga de comunicação viva; a irmandade da respiração. A mão do guia sobre sua testa pode ajudar no relaxamento. O contato com outro participante pode ser mal-entendido e provocar alucinações sexuais. Por esta razão, esse tipo de ajuda deve ser combinada previa e explicitamente.

Não se pode prever que visões ocorrerão, nem sua seqüência. Pode-se apenas incitar os participantes a fechar a boca, respirar pelo nariz, e desligar a irrequieta mente racionalizante. Mas só uma pessoa experiente de inclinações místicas consegue fazer isso (e assim permanecer no sereno esclarecimento). A pessoa despreparada ficará confusa ou, pior, entrará em pânico: a luta intelectual para controlar o oceano.

No caso dos psicodélicos mais amplamente usados (LSD, psilocibina etc.), é seguro dizer que tais efeitos corporais praticamente nunca são efeito direto da droga. A droga age apenas sobre o cérebro e ativa padrões neurais centrais. Todos os sintomas físicos são criados pela mente. Indisposição física é um sinal de que o ego está lutando para manter ou recuperar o controle através da dissolução dos limites emocionais.

"Conhece-te a ti mesmo" uma das frases mais antigas conhecidas pela humanidade, está escrita na pedra em cima da entrada principal do Oráculo de Delfos, na Grécia. Essa frase aponta ao fato de que em ordem para você ser livre do arraigado de idéias e imposições da cultura dominante, você deve começar a se entender primeiro, entender o seu eu interior, seu ego, seu organismo, físico, emocional e mental.


Referências:

The Relation of Expectation and Mood to Psilocybin Reactions: A Questionnaire Study - Psychedelic Review, No. 5, 1965

Programmed Communication During Experience with DMT, Timothy Leary Psychedelic Review, No. 8, 1966

On Programming Psychedelic Experiences, Ralph Metzner & Timothy Leary Psychedelic Review, No. 9, 1967 (complete pdf)

The Psychedelic Experience: A Manual Based on the Tibetan Book of the Dead (Citadel Underground) by Timothy Leary (Oct 1, 2000)

DMT e Neurociências





DMT e Neurociências

Marcelo Bolshaw Gomes [1]
Jornalista, professor de comunicação da UFRN, doutorando em ciências sociais, currículo Lattes: http://genos.cnpq.br:12010/dwlattes/owa/prc_imp_cv_int?f_cod=K4792219T9


JUSTIFICATIVA

O N,N-DMT ou N,N-dimethyltryptamine (C12H16N2), o alcalóide psicoativo existente na “bebidas mágicas brasileiras” (Ayahuasca e Jurema), deve se tornar no principal antidepressivo deste século, indicado para processos terapêuticos de mudança de hábitos, principalmente em tratamentos de dependência química, podendo ainda ser utilizado para o estudo da mente e para o desenvolvimento humano. E, apesar desta substância, só existir em plantas no Brasil e de sua patente científica ser discutido no âmbito internacional, ainda são poucas as pesquisas interdisciplinares realizadas sobre o assunto.

Sobre a Ayahuasca, há uma farta literatura botânica e antropológica, alguns estudos específicos sobre sua farmacologia e uma compilação interdisciplinar recente (LABATE & ARAÚJO; 2002) – que detalhamos adiante. Importante agora é ressaltar a descoberta do “efeito ayahuasca” (HOLMSTEDT-LINDGREN, 1967), isto é, de que a psicoatividade oral do DMT depende da inibição da monoanima-oxidase (a enzina catabólica MAO), causada pela ingestão simultânea de beta-carbonilas. Na Ayahuasca, o princípio simbólico feminino é constituído pela folha da Psichotria Viridis (Chacrona ou Rainha), portadora de DMT; e o princípio masculino, pelo cipó Banisteriopsis Caapi (Jagube ou Mariri), que contém harmina e harmalina, inibidores que geram a psicoatividade. Porém, nem a folha nem o cipó são psicoativos tomados separadamente.

Sobre a Jurema, o estudo contemporâneo mais importante é harmahuasca, anahuasca e jurema preta: farmacologia humana de DMT oral mais harmine de Jonathan Ott (2002), em que se investiga a hipótese de sinergia psicoativa entre o DMT e as b-carbonilas em diferentes preparos: a pharmahuasca (cápsulas de DMT e Harmine sintéticos); a anahuasca (bebidas preparadas com plantas diferentes da Ayahuasca, mas com os mesmos princípios ativos); e, finalmente, a Jurema preta, que apresenta um nível de concentração de DMT muito superior ao de outras plantas e é principal fonte contemporânea de triptaminas para as pharmahuascas e anahuascas. Outra descoberta notável, é que, consumido via oral acima de 25 mg, o DMT é psicoativo por si só, não precisando de inibidores. Não haveria, portanto, o tão propalado “ingrediente perdido” do preparo da Jurema entre os índios nordestinos.

Sobre o DMT propriamente dito, as pesquisas se iniciam com os textos de Terence McKenna (1992, 1993, 1994 e 1996). Hoje, na internet, encontram-se alguns sites com informação detalhada sobre a substância ([2]).

Toda informação disponível referente a estes três pontos (a Ayahuasca, a Jurema e o DMT) será detalhada em diferentes revisões bibliográficas.

OBJETIVOS E METODOLOGIA

Além de investigar o efeito do DMT no cérebro, o objetivo principal desta pesquisa é, observando o aspecto reverso, estudar a mente através do DMT. Ou seja: não apenas estudar o efeito químico da substância no organismo, mas, sobretudo, compreender quais dimensões de consciência que este efeito propicia (telepatia, regressões mentais a traumas infantis, visualização de imagens do inconsciente profundo, mudanças na percepção do tempo e da realidade).

Todavia, há também objetivos secundários bastantes relevantes. Em primeiro lugar, trata-se da importância de se estabelecer um projeto de pesquisa trans-disciplinar de ponta envolvendo pesquisadores locais (psicólogos, antropólogos, médicos, etc) com um assunto regional (uma vez que a jurema é nativa do semi-árido nordestino) dentro do Centro Internacional de Neurociências. Pensamos que a UFRN não deve apenas sediar este instituto de pesquisa, mas também participar desta iniciativa com seus pesquisadores, com temas de interesse público da sociedade potiguar. Mas não é só: o projeto quer também objetiva a elaboração e produção artesanal de um medicamento a base de DMT extraído da Jurema, bem como a possibilidade de sua utilização no tratamento de dependentes químicos. Para tanto, várias outras pesquisas específicas precisam ser desenvolvidas, ampliando assim o campo da investigação. Trata-se assim de um projeto geral a partir do qual outros projetos podem ser desenvolvidos.

A idéia é entrecruzar diferentes metodologias para investigar o DMT: estatísticas de entrevistas qualitativas, hipnose, encefalogramas, tomografias cerebrais, simulações holográficas, experiências com símios e outros animais e até dissecação do cérebro de doadores. Também é preciso colocar que cada sub-pesquisa do macro-projeto comporta uma metodologia específica aos seus objetivos particulares. Por exemplo: extrair DMT da Jurema e sintetiza-lo com b-carnboninas em um medicamento? Ou ainda se a potencialização homeopática do DMT+harmine aumenta a eficácia do medicamento em pequenas dosagens de longo prazo? Essas são investigações que comportariam metodologias e técnicas de pesquisas específicas.

O essencial, no entanto, será demonstrado através do método lógico dedutivo, com ficará claro com a enunciação da hipótese da pesquisa, após as revisões bibliográficas necessárias para colocação do assunto no patamar atual.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA I – A AYAHUASCA

A bebida conhecida como Ayahuasca ou Yajé é preparada através da infusão do cipó do Jagube ou Mariri (Banisteriopsis caapi) e da folha da Rainha ou Chacrona (Psycotria viridis) - naturais da região. A bebida teria origem do Império Inca e seu uso teria se difundido entre várias tribos indígenas, das quais se tem razoável conhecimento antropológico. Ingerindo o chá, os índios absorvem o espírito da planta e, em transe, têm experiências psíquicas e vivenciam fenômenos paranormais, tais como a telepatia, a regressão a vidas passadas, contatos com os espíritos dos seus antepassados mortos, presciência e visão à distância. Há relatos de xamãs usavam a bebida para descobrir qual era a doença de seus pacientes e saber como tratá-la. Diversos antropólogos, inclusive, tomaram o chá e descreveram seus efeitos parapsíquicos. Ainda hoje, várias tribos praticam rituais com o uso da Ayahuasca no Brasil, como as dos Kampas e dos Kaxinawás, localizadas perto da fronteira com o Peru. Desde o início do século, nos contatos culturais entre seringueiros e índios, a Ayahuasca passou a ser usada pelos migrantes nordestinos, que colonizaram a Amazônia ocidental. Destes contatos surgiram diversos grupos que associaram o uso da bebida a um contexto religioso cristão-espírita, dos quais a União do Vegetal, no estado de Rondônia, o Santo Daime e a Barquinha, no Acre, são os maiores expoentes.

Paralelamente ao crescimento desses grupos e à expansão do uso religioso do Ayahuasca, uma forte resistência dos setores conservadores da sociedade brasileira se formou, pressionando o governo para embargar o funcionamento destas instituições nos grandes centros metropolitanos. Porém, no dia dois de junho de l992, o conselho decidiu liberar definitivamente a utilização do chá para fins religiosos em todo o território nacional. Segundo a então presidente do Conselho Federal de Entorpecentes (Confen), Ester Kosovsky, “a investigação, desenvolvida desde l985, baseou-se numa abordagem interdisciplinar, levando em conta o lado antropológico, sociológico, cultural e psicológico, além de análises fitoquímicas”. O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá, explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos ayahuasqueiros e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais: “Não foram observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário, podemos constatar os efeitos integrados e reestruturantes do Ayahuasca com indivíduos que antes de participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos”.

Contra-indicações e efeitos colaterais

Geralmente se observa uma dieta estrita antes as sessões de ayahuasca: comida sem sal, açúcar, óleo, gorduras e condimentos picantes; e principalmente nenhum álcool ou sexo antes, durante ou nos dias imediatamente após a ingestão, em um marco de repouso, silêncio e isolamento do mundo cotidiano. Está comprovado que a dieta influencia diretamente na qualidade da experiência e, sem dúvida, o maior perigo físico ao ingerir ayahuasca está relacionado com os efeitos da harmala, harmalina e tetrahidroharmina que contém, os que cumprem uma importante função inibidora da enzima monoamina oxidasa (MAO).

A tiramina é um aminoácido que normalmente é metabolizado pela MAO no intestino. Logo de levar compostos inibidores da MAO, a tiramina que se encontra em certos alimentos já não pode ser metabolizada pelo organismo enquanto a MAO se encontre inibida. Isto pode causar um acréscimo dos níveis de tiramina na sangre. Feito que os altos níveis de tiramina podem afectar a produção natural de noradrenalina, esta condição pode conduzir a uma crise hipertensiva. Numa crise hipertensiva a pressão sanguínea pode sobressair 180 e o batido cardíaco pode chegar a mais de 100 pulsos por minuto. Quem sofre de uma crise hipertensiva geralmente reporta uma terrível enxaqueca, e pode se complicar chegando a produzir hemorragias, infartos, problemas neurológicos entre outros.

A tiramina se encontra em queijos, vinhos e geralmente em tudo fermentado. Também as drogas simpatomiméticas (MDMA, benzedrina, etc.) podem causar uma crise hipertensiva, além disso de certas ervas naturais a dar reações alérgicas. Os alimentos com alto teor de tiramina que devem ser evitados nos dias prévios e posteriores de cada sessão: queijos fermentados, molhos picantes, feijões, soja, caviar e sucedâneos, chocolate, enlatados, levedura, fígados, figos secos, pescado seco e encharque, banana, café, cerveja, vinho rosado e tinto, carnes em geral. Há também alimentos com moderado teor de tiramina a serem limitados: frutas (a maioria), produtos lácteos (leite, manteiga, yogurte, queijo fresco, etc.), chá, gasosos, vinhos brancos, missó e amendoim.

Um problema mais sério é a possibilidade de interação com outras drogas como o álcool. Uma das interações mais perigosas com inibidores da MAO é a modificação de inibidores seletivos de serotonina (SSRIs). Isto pode desencadear uma síndrome serotoninérgica, parecida com a crise hipertensiva em quanto aos sintomas de elevação da pressão, mas com certas diferenças. Sintomas como agonia aguda na ponta-cabeça, sangramento pelo nariz, rigidez muscular e febre podem indicar o aparecimento de uma crise hipertensiva, de uma síndrome serotoninérgico ou de ambas.

Incidentalmente, não só antidepresivos como os tricíclicos, heterocíclicos, SSRIs e outros antidepresivos atípicos podem causar interacciones perigosas com os começos ativos da ayahuasca, senão também muitas outras drogas, como os descongestionantes nasais, pílulas de emagrecimento, efedrinas, remédios contra a alergia e opiáceos. Também os medicamentos contra a enxaqueca, como o sumatriptan (Imitrex), são maliciosos à inibição da MAO. Ante a aparição inconfundível dos sintomas hipertensivos é recomendável uma cápsula sublingual de nifedipina 10 mg. cada 8 horas, ou se não tabletes de 25 mg. de clorpromazina (narcótico adrenolítica). Ambas podem abaixar a pressão, em caso de urgência.

Em relação aos aspectos antropológicos do Ayahuasca (tradição indígena, grupos religiosos atuais, farmacologia e comportamento psicológico, na Internet, é possível levantar bastante informação sobre o assunto[3]. Mas, o trabalho científico mais importante publicado sobre o tema certamente é O Uso Ritual da Ayahuasca, (LABATE, B. C. & ARAÚJO W. S. (Orgs); 2002). Neste trabalho, além de trabalhos sobre as tradições indígenas e os principais grupos ayahuasqueiros brasileiros (Santo Daime, União do Vegetal e a Barquinha), encontram-se três estudos médicos coordenados pelo Dr. Glacus Brito, em que se relata os resultados da investigação realizadas em 1993 por um grupo de pesquisadores biomédicos brasileiros, norte-americanos e finlandeses para avaliar os efeitos bioquímicos e psicológicos do ayahuasca.

Porém, o texto mais interessante desta compilação é o trabalho do psicólogo cognitivo israelense Benny Shanon, em que se investiga não apenas os aspectos antropológicos e botânicos do ayahuasca, mas também e sobretudo, no sentido reverso, se pesquisa da mente através da experiência do DMT. Pesquisa essa que queremos retomar no âmbito da neurociência.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA II – A JUREMA

Não é difícil entender porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes da chegada dos brancos. Além de seu caráter alucinógeno e do seu comprovado uso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto planta, desempenha um papel central no ecossistema semi-árido das caatingas nordestinas: durante os longos períodos de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e o cacto do mandacaru resistem verdes e com reservas de água. Na verdade, no auge da estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem. Esse fenômeno dá margem a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade e morte/renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode extrair água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível ao uso humano. No caso da Jurema, a existência de água atrai a presença de pequenos insetos e de vários níveis de pequenos predadores da cadeia alimentar do ecossistema do sertão. As cobras são habituais no juremal, tanto pela existência farta de seu alimento como pela proteção dos galhos espinhosos, impossibilitando o trânsito de animais maiores. Este fato deu margem a uma extensa mitologia popular, cantada em pontos e chamadas tradicionais, em que as cobras protegem espiritualmente à árvore, assim como esta, com seus espinhos, protege os seus répteis guardiões. Assim, centro da resistência da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não-humano’ (na verdade, não-mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão nordestino, desde tempos imemoriais, às margens de qualquer socialização: trata-se apenas um local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos.

O próprio termo comporta denotações múltiplas, que são associadas em um simbolismo complexo (MOTA & BARROS, 1990:171). Além do sentido botânico[4], a palavra Jurema designa ainda pelos menos três outros significados: preparado líquido à base de elementos do vegetal, de uso medicinal ou místico, externo e interno, como a bebida sagrada, "vinho da Jurema”; cerimônia mágico-religiosa, liderada por pajés, xamãs, curandeiros, rezadeiras, pais de santo, mestras ou mestres juremeiros que preparam e bebem este "vinho" e/ou dão a beber a iniciados ou a clientes; e a Jurema como sendo uma entidade espiritual, uma "cabocla", ou divindade evocada tanto por indígenas, como pelos herdeiros de cultos afro-brasileiros, o Catimbó e a Umbanda.

Antes dos colonizadores apenas os índios do sertão do Rio Grande do Norte, os Kariris e os Jê (ou Tapuios), tomavam Jurema. (SANGIRARDI JR; 1983) Essas tribos, detentoras dos ritos da Jurema, no entanto, se aliaram aos holandeses e foram completamente destruídas pelas forças portuguesas. A Jurema como identidade étnica foi então construída historicamente em segredo durante o período de colonização, chegando até tribos litorâneas distantes que não tinham tradição com a bebida. O uso da Jurema foi tolerado e aceito pelos portugueses católicos quando era canalizado para lógica de guerra contra invasores franceses e holandeses, enquanto seu uso religioso era condenado como feitiçaria. Há vários registros históricos (século XVI e XVII) sobre a eficácia militar dos guerreiros-juremeiros. Esta dupla permissão/condenação favoreceu uma expansão secreta e silenciosa da Jurema, levando o uso da bebida a ser conhecida até o Maranhão. (ANDRADE, 1992:9)

Numa primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas no Nordeste, não permitiu que a Jurema, enquanto árvore sagrada, fosse conhecida, em seus usos e significados, não sendo assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros. Numa segunda fase histórica a Jurema representa um elemento ritual ligado à própria resistência armada dos povos indígenas ou à guerra empreendida contra inimigos inclusive em suas alianças. Ainda nesta fase na qual a Jurema começa a ser documentada, seu significado ainda não é entendido mas seu uso já é motivo de repressão, prisão e morte de índios, (...). Na medida em que avança o rolo compressor da colonização, processo de genocídio ou tentativa de dominação, não só política e econômica como também cultural, aparece uma nova forma de resistência: a Jurema assume um lugar central na religiosidade popular, não só indígena regional - Catimbó. Diante do componente negro a Jurema garante seu reconhecimento, como entidade (espírito, divindade, cabocla) autóctone, "dona da terra". A Jurema é absorvida pelos cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusive os "Candomblés de Caboclos". Nas últimas décadas é no contexto da Umbanda, religião nascente e em pleno processo de sistematização e de expansão nacional, que a Jurema é integrada na cosmologia sagrada, no panteão da religião nacional. Constatamos em vários estados nordestinos as "Linhas da Jurema", dentre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda. Nesses últimos anos, e paralelo ao movimento religioso propriamente brasileiro, a Jurema continua como "núcleo duro", segredo, bandeira ou símbolo, para os remanescentes indígenas, em pleno "movimento étnico", num contexto de defesa de seus direitos humanos, de suas áreas de reservas e de sua autonomia e reconhecimento no pluralismo da sociedade e das culturas brasileiras. (ANDRADE, 1992:2)

E foi assim, neste contexto contraditório, que a Jurema se firmou como prática étnica indígena e se misturou com os cultos africanos. E não se trata, nesses cultos, de reduzir a planta a um ‘espírito’ de uma cabocla como conhecemos na umbanda: o candomblé africano reconhece a Jurema como orixá, o único genuinamente brasileiro.[5] A Jurema chegou ao império como uma forma religiosa de resistência cultural bastante complexa, mantendo viva seu caráter guerreiro e marginal e conheceu ainda um novo ciclo de religiosidade popular - o dos mestres da jurema no catimbó nordestino, que, até a primeira metade do século XX utilizavam a bebida para desfazer feitiços e encantamentos no CE, PB e RN (CASCUDO, 1978).

Porém, apesar de se constituir como um complexo rico em variações, a maioria dos estudos antropológicos sobre a Jurema descreve apenas o Toré, festa dos índios nordestinos em que a bebida é ritualmente consumida. O relato mais antigo data de 1946, quando Oswaldo Gonçalves de Lima descreve o contínuo uso xamânico do vinho da jurema entre os índios Pankararu do Brejo dos Padres, no sul de Pernambuco.

Por volta de 1980, alguns pesquisadores advogam na extinção dos cultos da Jurema (SCHULTES & HOFMANN, citados por OTT, 2002:673). No entanto, sabe-se que algumas formas cerimoniais associadas ao Toré têm sobrevivido entre os Xucuru da Serra de Ararobá/PE; os Kariri-xocó de Colégio, na divisa entre AL e SE (MOTA, 1987); os Atickum-Umã/PE (GRÜNEWALD, 1995); os Truká (BATISTA, 1995) e numerosos outros grupos espalhados pelo sertão nordestino (PINTO, 1995). Além disso, durante a segunda metade do século XX, a cerimônia indígena do Toré tem sido adotada simbolicamente por grupos umbandistas ao longo do litoral nordestino.

Em A Jurema em “Regime de Índio”: o caso Atikum (GRÜNEWALD, 1995) observa-se o contraste de alguns aspectos simbólicos desta reconstituição do uso cerimonial da Jurema em um contexto religioso contemporâneo e entre seu contexto tradicional. O texto trata de como, entre 1943 e 1945, os caboclos da Serra do Uma, descendentes de tribos indígenas desconhecidas, sabendo de que o governo brasileiro tinha como critério para concessão de terras para reservas indígenas a realização do Toré, procuraram a tribo dos Tuxá para aprender o ritual e conseguir o benefício. O que realmente acontece em 1949, quando os caboclos de Umã são elevados a categoria de índios Atikums (nome de um suposto ancestral mítico da tribo). Assim, o Toré e o uso ritual da Jurema são tradições a serem exibidas como certificados étnicos, devidamente reconhecidas pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e depois dele, a FUNAI. Grünewald observa, no entanto, que não se trata de um mero ardil para garantir a posse coletiva da terra, mas que os caboclos de Umã realmente passaram a acreditar em sua nova identidade Atikum. A Jurema deu a esses homens mais do que um pedaço de terra: uma identidade étnica une um grupo separando-o de outros, dando a ele um lugar no tempo e no espaço social.

Outro episódio, narrado de passagem neste texto, cita o trabalho desenvolvido por uma fundação holandesa, Friends of the Forest – Ethnopharmacological agents & rituals and drug dependency treatment research. A fundação, em conjunto com universidades e autoridades públicas holandesas, aplicava tratamento gratuito para reabilitação de viciados em drogas (heroína, cocaína, álcool, etc) utilizando-se principalmente da Ayahuasca. No entanto, devido ao corte de fornecimento pela entidade que gerencia o Santo Daime, que considerou o uso terapêutico da bebida fora dos seus preceitos religiosos, “os amigos da floresta” passaram então a pesquisar e utilizar os mesmos princípios psicoativos extraídos de outras plantas similares. Nesta “ayahuasca analógica”, a Jurema Preta (Mimosa Hostilis) passa a ser utilizada em combinação com sementes de Perganum Harmala, um arbusto do oriente médio muito conhecido por suas características sedativas[6].

Mas não é só: os próprios pesquisadores da fundação Friends of the Forest descrevem seu contato com os índios Atikum e como introduziram o uso desta nova fórmula em alguns de seus rituais (BARBOSA, 1998:27-28). Segundo eles, os Atikum não apenas reconheceram a potencialização dos efeitos da Jurema pelo Perganum Harmala, como também ficaram com sementes do arbusto para plantar no sertão. O texto insinua que houve uma assimilação cultural de técnicas de preparo científicas, importadas do exterior, pela “cultura Atikum” e que tal fato poderá ressuscitar a tradição da Jurema.

Não sabemos se realmente os Atikum levarão adiante os ensinamentos dos pesquisadores holandeses. Também não é possível saber, pelo menos através da pesquisa antropológica, se realmente existe uma tradição secreta da Jurema, que detenha o conhecimento do ingrediente inibidor. O certo é que hoje é mais fácil encontrar trabalhos espirituais com a utilização da Jurema na Europa que nas caatingas do nordeste brasileiro. Vivemos um processo de reconstrução mítica globalizada, em que uma planta genuinamente brasileira, símbolo de parte de nossa consciência étnica, está sendo reinventada em um contexto global contemporâneo e até mesmo re-importada de volta para as classes médias culturalmente mais sofisticadas da sociedade brasileira.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA III - O DMT

N,N-DMT ou N,N-dimethyltryptamine (C12H16N2) é um psicoactivo da família tryptamine, causa intenso visuais e forte estado mental psicodélico quando fumado, injetado, bufado, ou (quando levado com um MAOI tais como harmaline) quando engolido oralmente. N,N-DMT é muito chamou freqüentemente só "DMT", embora este nome cause confusão algumas vezes com seu primo químico 5-MeO-DMT. Ele está presente em milhares de espécie de plantas e foi usado tradicionalmente em América do sul ambas em Ayahuasca e rapés.

DMT é um neurotransmissor químico presente naturalmente no corpo humano bem como em plantas muitas. Ele não causa dependência física ou psicológica. Mas há contra-indicações: os efeitos de fumado N,N-DMT são dramaticamente aumentado se usados por indivíduos usando MAOIs. MAOIs são enzimas comumente encontradas nos anti-depressivos Nardil (phenelzine), Parnate (tranylcypromine), Marplan (isocarboxazid), Eldepryl (l-deprenyl), e Aurorex ou Manerix (moclobemide). Indivíduos com casos de esquizofrenia em sua história familiar, com tendências à psicose depressiva ou ainda em estado emocional fragilizado devem ter cuidado com psicolédicos pois eles podem ser um ‘gatilho’ para a manifestação desses desequilíbrios.

NOME: N,N-Dimethyltryptamine

NOME QUÍMICO: N,N-Dimethyl-1H-indole-3-ethanamine

OUTROS NOMES: 3-[2-(dimethylamino)ethyl]indole, DMT

FÓRMULA QUÍMICA: C12H16N2

PESO MOLECULAR: 188.27

PONTO DE FUSÃO: 44.6-46.8°C (116°F) (crystals)

PONTO DE EBULIÇÃO: 60-80°C (crystals)

Fumar DMT é muito diferente que usar ayahuasca. Usar Jurema ou DMT sintética e um IMAO farmacêutico também não são o mesmo. Há significativas diferenças tanto químicas como na experiência subjetiva. Os inibidores também apresentam diferenças relevantes. A maior diferença entre P. harmala e B. caapi reside nos níveis de harmalina e tetrahidroharmina. Na P. harmala os níveis de harmalina são mais altos (o que explica sua maior efetividade IMAO) e os níveis de tetrahidroharmina são muito menores ou estão ausentes.

O uso de DMT em rapés dos índios da América do Norte e Central é documentado desde o início do Século VIII DC, mas suspeita-se que seu uso seja muito mais antigo. Os rapés Cohoba (da árvore Yopo) foram documentados em Columbia nos Séculos XVI até XIX. Em 1931, o primeiro DMT químico foi sintetizado por Richard Manske e chamado de "nigerine". É ilegal possuir ou vender DMT nos Estados Unidos e na maioria dos países desde 1971.

Porém, o DMT ganhou notoriedade significante nos últimos 15 anos com Terence Mckenna. McKenna, foi o pioneiro no estudo sistemático das tradições de consumo de substâncias químicas. Autor de vários livros sobre diferentes substâncias psicoativas e religiosidade contemporânea (1993, 1995 e 1996) – estabelece uma associação estratégica entre duas hipóteses de outros autores, que se tornarão os cânones do movimento entheogênico[7]:

1. A hipótese de que foi através da ingestão de substâncias químicas psicoativas (principalmente o DMT) que os macacos se tornaram conscientes de si, dando início à evolução da espécie humana. Nesta hipótese, sugere-se que toda nossa experiência com o sagrado derivou originalmente do consumo de substâncias químicas.

2. A hipótese de Gaia (James Lovelock e Lynn Margulis) segundo a qual a biosfera da Terra é na verdade um organismo vivo. De forma que, mais do que dispositivos de poder para o controle social (as drogas), as substâncias psicoativas teriam como função primordial à re-ligação dos homens com a consciência telúrica do planeta.

Na mesma linha de raciocínio, Jeremy Narby, em seu livro A Serpente Cósmica, compara a dupla hélice do DNA às duas serpentes do símbolo do Caduceu e advoga a tese de que o DMT é a chave para o processo de evolução humana (o “programa lógico do mundo vegetal para rodar no cérebro humano”) do ponto de vista da biologia molecular.

Tais abordagens vêem suscitando grandes debates no campo da neurociência e psicologia cognitiva. Debates esses, que queremos, neste projeto, revisar e aprofundar. Como já adiantamos no início, de todas as contribuições recentes sobre o tema, consideramos o mais relevante o de Benny Shanon, sobre a Ayahuasca como instrumento de investigação da mente (in LABATE, 2002; pág. 631), através dos parâmetros teóricos da psicologia cognitiva. Para ele, há questões fenomenológicas de primeira ordem (o que está sendo experimentado?) e de segundo ordem (Há uma ordem e um sentido no que está sendo experimentado?). Há também questões de dinâmica, de contexto e teóricas gerais a serem discutidas sobre o uso do Ayahuasca. Por exemplo, em relação às questões fenomenológicas de primeira ordem, Shanon distingue as questões de conteúdo das de domínio e de estrutura. Assim, felinos, pássaros e répteis são as imagens mais recorrentes nos transes, seguidos de perto pelos palácios, tronos e imagens arquitetônicas celestiais.

A pesquisa destaca que as imagens são ‘universais da mente’ (semelhantes ao que Jung chamou de arquétipos[8]) pois surgem em indivíduos social e culturalmente diferentes. Esses conteúdos podem surgir de diferentes formas ou domínios e o encadeamento dessas formas com estes conteúdos forma estruturas narrativas paralelas aos rituais. E Shanon entrevê, através deste sistema cognitivo de conteúdos/domínios, os parâmetros estruturais da consciência e destaca pelo menos quatro aspectos relevantes em relação ao efeito do Ayahuasca: a percepção do pensamento como uma cognição coletiva, a indistinção entre o interior e o exterior, e as experiências desindentificação pessoal e de tempo não-linear.

Ou seja: quando tomam Ayahuasca as pessoas percebem que seus pensamentos não são individuais mas sim ‘recebidos em rede’ (a mente como um rádio); que não existe a distinção entre o sensorial e o sensível; podem se transformar em animais (jaguares e águias são freqüentes) ou em outras pessoas; e finalmente percebem o transcorrer do tempo de forma desigual, em que alguns segundos demoram séculos e horas se sucedem rapidamente e em que alguns momentos se experimentam a simultaneidade (ou a eternidade) temporal.

Quando baixamos arquivos no computador, pode-se perceber que alguns segundos demoram mais que outros, em função do peso do arquivo e da aceleração da conexão da internet. O que Shanon suspeita é que o mesmo acontece com o cérebro sob o efeito do Ayahuasca.

HIPÓTESE

Acredito que no aprofundamento neurocientífico das teses de Shanon. Nossa principal hipótese de pesquisa é que o DMT poderá, dentro de um setting clínico não-religioso, funcionar com uma substancia vital ao desenvolvimento psicológico humano no século que se inicia.

Acredito também que os países e regiões detentores das plantas ricas nesta substancia (como o nordeste em relação à Jurema e a Amazônia em relação à Ayahuasca) não podem ser privadas dos benefícios sociais e culturais decorrentes desta realidade.

Assim sendo submeto este primeiro esboço de projeto de pesquisa à avaliação crítica dos interessados, na esperança de que, com novas contribuições, ele se consolide e vingue em seus objetivos estratégicos.

Natal, 29 de outubro de 2003.

Marcelo Bolshaw Gomes

Bibliografia

ANDRADE, J. M – Jurema: da festa à guerra, de ontem e de hoje. João Pessoa, UFPB, 1992.

BARBOSA, W. M. da S. A Jurema Ritual in Northern Brazil. From the Newsletter of the Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) - Volume 8 Number 3 Autumn 1998 - pp. 27-29 <http://www.maps.org/news-letters/v08n3/08327yat.html>

CASCUDO, L. da C. Meleagro; pesquisa do catimbó e notas da magia branca no Brasil. Natal: Agir/Fundação José Augusto, 1978.

GRÜNEWALD, R. A. A Jurema e o "Regime de Índio" Atikum. Trabalho apresentado no 1o ERSUPP. Salvador, 1995. <http://users.lycaeum.org/~room208/jurema/Rodrigo/index.htm>

LABATE, B.C. & ARAÚJO, W. S. (org.s); O Uso Ritual da Ayahuasca. Tradução de Claudia Rosa Riolfi e Valdir Heitor Barzotto. São Paulo: Fapesp/Mercado de Letras, 2002.

MCKENNA, T. - Alucinações Reais' Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1993.

Alimento dos Deuses Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1995.

Retorno à cultura arcaica Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1996.

(com Ralph Abraham e Rupert Sheldrake) 'Caos, Criatividade e o retorno do Sagrado - triálogos nas fronteiras do Ocidente' São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1994.

MOTA, C. N. Jurema and Ayauasca: Dreams to Live by. In: Ethnobiology: Implications and Aplications. Vol. 2. Belém, Museu Goeldi, 1990.

MOTA, C. N. & BARROS, J. F. P. de. Jurema: Black-Indigenous Drama and Representations. In: Ethnobiology: Implications and Aplications. Vol. 2. Belém, Museu Goeldi, 1990.

OTT, J. Pharmahuasca, anahuasca e jurema preta: farmacologia humana de DMT oral mais harmine, in MAPS: <http://www.maps.org/news-letters/v06n3/06332ott.html>

SANGIRARDI Jr. Jurema. In: Os Índios e as Plantas Alucinógenas. Rio de Janeiro, Editorial Alhambra. 1983.

--------------------------------------------------------------------------------

[1] Jornalista, professor de comunicação da UFRN, doutorando em ciências sociais, currículo Lattes: http://genos.cnpq.br:12010/dwlattes/owa/prc_imp_cv_int?f_cod=K4792219T9

[2] V. http://dmt.lycaeum.org/ e http://www.erowid.org/chemicals/dmt/dmt.shtml

[3] V. principalmente www.santodaime.org; www.ayahuasca.com e http://yage.net/

[4] Mimosa tenuiflora (Will.) Poiret (=M. hostilis Benth.) e outras espécies de Mimosáceas no Nordeste brasileiro, principalmente a Hostilis, chamada Jurema Preta.

[5] A Jurema como nação: http://www.geocities.com/Athens/Atlantis/5418/

[6] Também conhecido como Syrius Rue, essa planta é conhecida desde tempos pré-históricos do Mediterrâneo até Ásia central. Está associada à tradição dos tapetes voadores árabes e das bebidas sagradas da Antiguidade (o Soma do Rg Veda e do Haoma do Avesta da Pérsia).

[7] Entheogênesis significa 'origem divina' (Theo = Deus, Gênesis = Origem). A palavra 'entheógenos', no entanto, surgiu em contraposição a denominação de 'alucinógenos' para designar a utilização de substâncias químicas com finalidades místicas, religiosas ou cognitivas. Segundo seus defensores a denominação de 'alucinógeno' para as substâncias químicas de efeito psíquico é preconceituosa, pois embute o sentido de entorpecimento. A enteogênesis seria, então, o uso não alienante das drogas.

[8] Para Jung os arquétipos eram elementos estruturais do inconsciente coletivo e para psicologia cognitiva, os universais da mente são determinantes da vida psíoquica.

DMT, Aliens e a Evolução Humana

Artigo retirado do site: http://mundocogumelo.wordpress.com/2010/05/03/dmt-aliens-e-a-evolucao-humana/


Jornalista, escritor e investigador arqueológico Graham Hancock nasceu em Edimburgo, Escócia em 2 de agosto de 1950.  Seus livros incluem Lords of PovertyEm Busca da Arca da AliançaAs Digitais dos DeusesKeeper of Genesis (lançado nos EUA comoMessage of the Sphinx), O Mistério de MarteHeaven’s Mirror (com a esposa Samantha Faiia), Underworld: The Mysterious Origin of Civilization e Talisman: Sacred Cities, Sacred Faith (com Robert Bauval).

Ele também roteirizou e apresentou os documentários do Channel 4 Underworld: Flooded Kingdoms of the Ice Age e Quest for the Lost Civilization (exibido em três partes pelo Discovery Channel, baseado em seu livro “Heaven’s Mirror”).

Seu livro mais recente, Supernatural: Meetings With The Ancient Teachers of Mankind, foi lançado no Reino Unido em outubro de 2005 e nos EUA em 2006. Nele, Hancock examina a arte rupestre paleolítica à luz do modelo neuropsicológico de David Lewis-Williams, explorando sua relação com o desenvolvimento da mente do homem moderno.

As principais áreas de interesse de Hancock são mistérios antigos, monumentos de pedra ou megálitos, mitos antigos e dados astrológicos/astronômicos do passado. Um dos principais temas discorridos em vários de seus livros é a possível conexão global com uma “cultura-mãe”, da qual, crê ele, todas as antigas civilizações históricas descenderiam. (Fonte)

Neste vídeo ele fala sobre a experiência do DMT, os estados alterados de consciência em geral e sua relação com o fenômeno da abdução alienígena e a evolução humana.



Efeitos do DMT

DMT: Efeitos

Atenção! Reações e experiências podem variar dramaticamente de pessoa para pessoa



Duração do DMT (fumado)

  • Duração total: 6 - 20 minutos
  • Começo: 0 - 1 min
  • Platô: 3 - 15 mins
  • Descida: 3 - 5 mins
  • Pós-efeitos: 15 - 60 mins

Lista dos efeitos: 

POSITIVOS
  • curta duração
  • experiências imersivas
  • visuais intensos de olho aberto e padrões de caleidoscópios
  • poderosa sensação de rapidez
  • mudança radical de perspectiva
  • profundas experiências espirituais capazes de mudar a vida
NEUTROS
  • mudança na percepção do tempo
  • alucinações auditivas / distorções de som (zumbido)
  • mudança de coloração (por exemplo: todo o mundo começa a ser vista de vermelho, verde ou ouro)
NEGATIVOS
  • experiências demasiado intensas
  • difícil para os pulmões para fumar
  • leve desconforto no estômago
  • dificuldade em integrar as experiências
  • medo esmagador
  • rápido início dos efeitos e possíveis consequências disso se não for bem preparado (o pipe cair e quebrar por exemplo, derrubar coisas, etc..)


Descrição:

"[O sentimento de usar DMT] é como se alguém tivesse sido atingido por um raio noético*. O mundo ordinário é quase instantaneamente substituído, não só com a alucinação, mas com uma alucinação que o personagem alienígena é a sua estranheza absoluta. Nada neste mundo pode preparar alguém para as impressões que irão preencher sua mente quando você entrar no sensorium do DMT."

Terence McKenna

Coloque o Universo no cachimbo. Mire no cérebro. Fogo. 

* Noético: como conceito filosófico, define a dimensão espiritual do homem. Como disciplina, estuda os efeitos subjetivos da consciência, da vida, da mente e do espírito a partir do ponto de vista da ciência. (Nota da Equipe de Tradução)

Atenção! Aviso:

As informações sobre os efeitos disponíveis no Erowid é um resumo dos dados coletados de usuários, pesquisas e outros recursos. Esta informação destina-se a descrever a gama de efeitos que as pessoas relatam ter. Os efeitos podem variar drasticamente de uma pessoa para outra ou de uma experiência para outra, baseado em uma variedade de fatores, tais como a química do corpo, idade, sexo, saúde física, dose, forma de material, etc.


Extraído de Erowid: DMT Vault: Effects
Tradução: Equipe DMT Brasil

DMT Puro - Dosagens





O N-N DMT, ou N,N-dimethyltryptamine (C12H16N2) é um neurotransmissor químico presente naturalmente no corpo humano assim como em inúmeras plantas. Pode ser fumado ou tomado oralmente, produzindo resultados bem diferentes. Quando ingerido oralmente (geralmente através de plantas), se chama Ayahuasca ou Anahuasca, dependendo de quais plantas foram usadas. Na maior parte das vezes o DMT puro é encontrado na forma de cristais. A tabela abaixo mostra as dosagens do DMT quando fumado, em miligramas (mg):

  • Dosagem mínima: 2 - 5 mg
  • Dosagem leve: 10 - 20 mg
  • Dosagem razoável: 20 - 40 mg
  • Dosagem forte: 40 - 60 mg


Princípio dos efeitos: 15 - 60 segundos
Duração: 5 - 20 minutos
Pós-efeitos normais: 15 - 60 minutos


Quando fumado, o efeito do DMT é de pequena duração e muito intenso, a fumaça é áspera e lembra cheiro de plástico. Por causa do rápido aparecimento dos efeitos, é importante que você tente tragar o mais profundo possível a fumaça. Se você esperar demais para dar uma segunda tragada, os efeitos podem já ter começado... e uma vez que isso acontece, é improvável que você consiga dar outra tragada!


Muitas pessoas acham a maneira mais efetiva de fumar DMT sendo num cachimbo de vidro e inalando profundamente. Muitas vezes, o DMT derrete deixando sobras no cachimbo. Isso pode ser um problema se você colocar uma dose cheia posteriormente e sem saber, fumar 20 mg adicionais que haviam sobrado no cachimbo. Alguns recomendam pré-aquecer o cachimbo, em teoria isso irá prevenir que o DMT aquecido em cima do vidro se deposite nas paredes frias do cachimbo. Outros recomendam colocar uma segunda cobertura em cima do DMT de outra planta para que a chama não o atinja diretamente (resultando em perda de material).


Lembre-se, é preciso ter consciência para saber dosar a diferença entre 10 e 50 mg. Cuidado!


CADA INDIVÍDUO REAGE DE FORMA DIFERENTE AOS PSICOATIVOS

CONHEÇA O SEU CORPO - CONHEÇA SUA MENTE
CONHEÇA A SUBSTÂNCIA - CONHEÇA A FONTE


Fonte: http://www.erowid.org/chemicals/dmt/dmt_dose.shtml
Tradução: Equipe DMT Brasil